quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A falta de limites nas salas de Educação Infantil. As histórias transformando comportamentos.

Visando as características comportamentais de uma sala de Maternal II, sendo alunos de 3 anos de idade, foi avaliado pelos educadores falta de limites, ou seja, características emocionais alteradas em boa parte do grupo, estes que gritam, choram sem motivo, cospem e batem nos professores.
Baseando-se nas idéias interacionistas de Vygostky (2008) de que a criança deve interagir com o meio e o mediador deve particiar dessa interação, propõe-se a reflexão de quais são os pontos dificultadores, já que a escola está exposta a todas as tensões da sociedade. Percebe-se que os professores não têm uma visão consisa do que é disciplina e de como lidar e analisar realmente se a criança está agindo com indisciplina. Além de que o uso do “não” nas escolas está sendo inadequado, na maioria das vezes para indicar autoridade e não de forma clara para explicar o porquê e que na escola aquela atitude não é aceita.
Os pais também não sabem agir quando entram em questão “os limites”, principalmente com os filhos pequenos, e se sentem errados e culpados em corrigir e por as regras. A clareza do que a criança deve fazer é fundamental para a compreensão da mesma do que é certo e errado, e segundo estudos da neurociência, a criança até os dois anos se desenvolve emocionalmente, e até sete anos a sua personalidade, fase principal de se educar.
Segundo Maria Teresa Estrela, professora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (2002 ) “Existem vários tipos de disciplina: a escolar, a militar, a religiosa, a desportiva. Todos se inscrevem num fundo ético de caráter social. Não se pode, portanto, falar em disciplina/indisciplina independentemente do contexto sócio-histórico em que ela ocorre”.
A questão disciplina/ indisciplina está relacionada com as mudanças sofridas pela escola ao decorrer dos tempos. Conforme a escola foi adquirindo novas visões, novas perspectivas, a figura do professor também foi se modificando. As heranças do magistrocentrismo, em que o professor tradicional era senhor do saber e autoridade na sala de aula, foram se transfigurando, e o professor foi adquirindo características de mediador da aprendizagem, dando mais autonomia ao aluno em articular-se. Hoje muitos não sabem lidar com a experiência de dar autonomia e não ser autoritário, o que causa confusões em analisar e lidar com a falta de limites em sala de aula.
Essa confusão de papel também é vista em salas de Educação Infantil, em que a equipe escolar não sabe lidar com a problematização da indisciplina. Não sabem usar o “não” de forma facilitadora, e sim abusam negando sempre aos alunos, sem dar uma justificativa precisa do porquê não fazer ou agir daquela forma.
A análise do que considerar como falta de limites, implica vários olhares: da escola, da sociedade e da criança. Muitas vezes a realidade social e cultural vivenciada pelo aluno não se combina com o mesmo olhar educacional da escola, sendo confuso à criança julgar o que é certo e errado em ambos ambientes que vivem. Para que a criança tenha uma disciplina ela tem que ter claro o que determinado ambiente espera dela. E a escola tem que ter claro o que quer da criança, para poder também lidar com a diversidade e com cada realidade sócio-cultural e as considerações que cada família tem sobre educação.
Além de deixar claro à criança o que se espera dela, teorias como a de Piaget (Revista da Educação-Março 2001 p.4) “Autodisciplina” não imposta de fora, mas desenvolvida pela interiorização e busca pessoal de equilíbrio, são alternativas válidas para serem trabalhadas também na Educação Infantil. As “regrinhas” devem fazer parte do planejamento, e ficar claro as ações que caracterizam certo  e errado para aquela instituição. A reflexão dos atos e sentimento como vergonha devem ser trabalhados; segundo Sartre, “ o sentimento de vergonha pura se origina do fato de o sujeito  se saber objeto do olhar, da escuta, do pensamento dos outros, independente de haver um julgamento negativo ou não”. A partir desse sentimento pode a criança saber arrepender-se de ações erradas.
Na educação Infantil, a falta de direcionamento e tempo ocioso, são também causadores de falta de limites, assim as crianças não têm o que fazer e esquecem do que é certo fazer, portanto, atividades dirigidas, divisões de grupo, são novas perspectivas de ação para um melhor desempenho da escola para com a aprendizagem e educação dos alunos.
O faz-de-conta e a prática de contação de histórias, além de ter como objetivo principal desenvolver a oralidade e aumentar vocabulário, auxiliam a criança a interiorizar as atitudes certas que a visão social espera dela. As fábulas principalmente porque trazem a moral são importantes nesse processo cognitivo ao estabelecer mentalmente e interiormente o que é certo ou errado. A contação de histórias na educação Infantil e a prática do reconto realizado por crianças de três anos de idade são alternativas para lidar com a falta de limites considerada pelos profissionais do Centro de Educação Infantil estudado, importante atitude de reflexão da prática e ação em busca de soluções imediatas.
As crianças que antes não aceitavam nem o cumprimento da rotina, passaram a despertar interesse pelas atividades de histórias, penetrando no faz-de-conta e por conseguinte melhorando as reações emocionais durante o dia.

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