Visando as características comportamentais de uma
sala de Maternal II, sendo alunos de 3 anos de idade, foi avaliado pelos
educadores falta de limites, ou seja, características emocionais alteradas em
boa parte do grupo, estes que gritam, choram sem motivo, cospem e batem nos
professores.
Baseando-se nas idéias interacionistas de Vygostky
(2008) de que a criança deve interagir com o meio e o mediador deve particiar
dessa interação, propõe-se a reflexão de quais são os pontos dificultadores, já
que a escola está exposta a todas as tensões da sociedade. Percebe-se que os
professores não têm uma visão consisa do que é disciplina e de como lidar e
analisar realmente se a criança está agindo com indisciplina. Além de que o uso
do “não” nas escolas está sendo inadequado, na maioria das vezes para indicar
autoridade e não de forma clara para explicar o porquê e que na escola aquela
atitude não é aceita.
Os pais também não sabem agir quando entram em
questão “os limites”, principalmente com os filhos pequenos, e se sentem
errados e culpados em corrigir e por as regras. A clareza do que a criança deve
fazer é fundamental para a compreensão da mesma do que é certo e errado, e segundo
estudos da neurociência, a criança até os dois anos se desenvolve
emocionalmente, e até sete anos a sua personalidade, fase principal de se
educar.
Segundo Maria Teresa Estrela, professora da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa
(2002 )
“Existem vários tipos de disciplina: a escolar, a militar, a
religiosa, a desportiva. Todos se inscrevem num fundo ético de caráter social.
Não se pode, portanto, falar em disciplina/indisciplina independentemente do
contexto sócio-histórico em que ela ocorre”.
A questão disciplina/ indisciplina está relacionada
com as mudanças sofridas pela escola ao decorrer dos tempos. Conforme a escola
foi adquirindo novas visões, novas perspectivas, a figura do professor também
foi se modificando. As heranças do magistrocentrismo, em que o professor
tradicional era senhor do saber e autoridade na sala de aula, foram se
transfigurando, e o professor foi adquirindo características de mediador da
aprendizagem, dando mais autonomia ao aluno em articular-se. Hoje muitos não
sabem lidar com a experiência de dar autonomia e não ser autoritário, o que
causa confusões em analisar e lidar com a falta de limites em sala de aula.
Essa confusão de papel também é vista em salas de
Educação Infantil, em que a equipe escolar não sabe lidar com a problematização
da indisciplina. Não sabem usar o “não” de forma facilitadora, e sim abusam
negando sempre aos alunos, sem dar uma justificativa precisa do porquê não
fazer ou agir daquela forma.
A análise do que considerar como falta de limites,
implica vários olhares: da escola, da sociedade e da criança. Muitas vezes a
realidade social e cultural vivenciada pelo aluno não se combina com o mesmo
olhar educacional da escola, sendo confuso à criança julgar o que é certo e
errado em ambos ambientes que vivem. Para que a criança tenha uma disciplina
ela tem que ter claro o que determinado ambiente espera dela. E a escola tem
que ter claro o que quer da criança, para poder também lidar com a diversidade
e com cada realidade sócio-cultural e as considerações que cada família tem
sobre educação.
Além de deixar claro à criança o que se espera dela,
teorias como a de Piaget (Revista da Educação-Março 2001 p.4) “Autodisciplina”
não imposta de fora, mas desenvolvida pela interiorização e busca pessoal de
equilíbrio, são alternativas válidas para serem trabalhadas também na Educação
Infantil. As “regrinhas” devem fazer parte do planejamento, e ficar claro as
ações que caracterizam certo e errado
para aquela instituição. A reflexão dos atos e sentimento como vergonha devem
ser trabalhados; segundo Sartre, “ o sentimento de vergonha pura se origina do
fato de o sujeito se saber objeto do
olhar, da escuta, do pensamento dos outros, independente de haver um julgamento
negativo ou não”. A partir desse sentimento pode a criança saber arrepender-se
de ações erradas.
Na educação Infantil, a falta de direcionamento e
tempo ocioso, são também causadores de falta de limites, assim as crianças não
têm o que fazer e esquecem do que é certo fazer, portanto, atividades
dirigidas, divisões de grupo, são novas perspectivas de ação para um melhor
desempenho da escola para com a aprendizagem e educação dos alunos.
O faz-de-conta e a prática de contação de histórias,
além de ter como objetivo principal desenvolver a oralidade e aumentar
vocabulário, auxiliam a criança a interiorizar as atitudes certas que a visão
social espera dela. As fábulas principalmente porque trazem a moral são
importantes nesse processo cognitivo ao estabelecer mentalmente e interiormente
o que é certo ou errado. A contação de histórias na educação Infantil e a
prática do reconto realizado por crianças de três anos de idade são
alternativas para lidar com a falta de limites considerada pelos profissionais
do Centro de Educação Infantil estudado, importante atitude de reflexão da
prática e ação em busca de soluções imediatas.
As crianças que antes não aceitavam nem o
cumprimento da rotina, passaram a despertar interesse pelas atividades de
histórias, penetrando no faz-de-conta e por conseguinte melhorando as reações
emocionais durante o dia.
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